1964: Festa de Santa Catarina, padroeira dos filósofos e do Seminário

Portada del folleto-programa

Por José-Martinho Montero Santalha (*)

Cada uma das três comunidades que compunham o Seminário de Mondonhedo (teólogos, filósofos e latinos) tinham um santo padroeiro: os teólogos o teólogo e filósofo dominicano São Tomás de Aquino (que então se celebrava no dia 7 de março, mas agora, depois da reforma litúrgica conciliar do Vaticano II, passou ao 28 de janeiro), os filósofos a mártir Santa Catarina de Alexandria (25 de novembro) e os latinos o bispo São Nicolau de Bári (6 de dezembro). Os dias das festividades litúrgicas correspondentes celebravam-se com variados actos festivos, culturais e deportivos.

Santa Catarina de Alexandria era a padroeira não só dos filósofos mas de todo o Seminário: até na sua própria denominação habitual se costuma, desde muitos anos atrás, usar uma fórmula similar a «Seminário de Santa Catarina» (habitualmente na correspondente formulação castelhana). A advocação de Santa Catarina como padroeira do Seminário aparece já nas primeiras «Constituciones», estabelecidas em 1594 pelo bispo Gonzalo Gutiérrez Mantilla (bispo de Mondonhedo entre 1593-1598).

Martinho Montero Santalla y Busto Abella, consumados actores

O programa do ano 1964

No ano 1964 era prefeito da comunidade dos filósofos o britoniense Dom Digno Pacio Lindín, que deixou um fulgor de renovação e de agradecimento nos que fomos seus alunos e em geral em toda a evolução do Seminário mindoniense naqueles anos conciliares. Dom Digno era uma personalidade de visão profética, a qual se acompanhava de uma poderosa energia de activista e de uma iniciativa inesgotável.

Para a celebração da festa de Santa Catarina desse ano 1964 editou-se uma folha impressa com o programa dos actos organizados arredor da jornada festiva do dia 25 de novembro.

Esta folha de programa tem o título «Fiesta de Santa Catalina / patrona del Seminario / Mondoñedo 25-XI-64«.

O programa dos actos é este:

Noviembre,  22-23-24:

Conferencias sobre la filosofía de Karl Marx por D. Gabriel González Álvarez, Doctor en Filosofía por la Universidad de Munich.

Olimpíada patronal.

25,  Día de Santa Catalina

A las 11. Recibimiento del Sr. Obispo, Excmo. Sr. D. Jacinto Argaya Goicoechea, a su regreso de la 3ª. sesión del Concilio Vaticano II.

Misa solemne con homilía, celebrada por D. Digno Pacio Lindín, Profesor de Filosofía.

A las 19. «Vigilia de armas», de Diego Fabbri. Interpretan:

El Director, Pedro Conde González;

Farrel, Julio Leal Carreira;

Hudson, Manuel Lozano Fernández;

Pedro, Jesús A. López Piñeiro;

Stefano, José M. Rodríguez Agrelo;

Alexis, Rodrigo Pantín Ares;

Maitre de Hotel, Luis Humberto Busto Abella;

Un viajero de Oriente, José M. Montero Santalla;

Extranjero, Juan J. Caruncho Rodríguez;

Muchacho, Francisco Conde Núñez;

Funcionario, Aquilino Rivera Martínez;

Otro Maitre de Hotel, Juan José Meilán García.

Todo este programa de actos mereceria comentário (por exemplo, o ciclo de conferências sobre a filosofia marxista); mas vou-me limitar só a alguns pontos.

«Olimpíada patronal»

Na «Olimpíada patronal» deveu de haver competições de atletismo nos campos deportivos, que recordo vagamente.

Tradicional nessas festas era algum encontro de futebol: o Maior contra o Menor, ou filósofos contra teólogos, ou a zona costeira contra o interior… Não sei se foi então que, no início de um desses encontros, quando já estavam jogadores e árbitro dispostos para começar, e os demais seminaristas como público assistente, saltou ao campo D. Fernando Porta, Director Espiritual do Maior, dirigindo-se para o árbitro com um bilhete de cem pesetas na mão ostentosamente e rogando-lhe com gestos insistentes que o colhesse… D. Fernando tinha estas originais e finas ocorrências humorísticas, que, como foi também neste caso, eram bem celebradas e aplaudidas.

Sim recordo bem nessa ocasião uma competição de tipo Maratona, salvadas as proporções… (si parva licet componere magnis…). Foi uma carreira pedestre pela estrada do Carmo desde um ponto mais abaixo de Lindim. Lembro que participei nela e quedou-me o recordo das feridas produzidas nos pés pelas pedras da estrada, que não estava ainda asfaltada… D. Digno alugara um autobus que vinha detrás, à maneira de «coche escova», recolhendo os que se retiravam por lesão ou por cansaço. Se a memória não me engana, fora vencedor o companheiro do meu curso Germán Chao Falcón.

A sessão teatral

A obra representada na velada teatral foi Vigilia de armas (ou Vela de armas em tradução alternativa, mais exacta) do dramaturgo italiano Diego Fabbri (1911-1980, portanto vivo naquele momento), quiçá mais conhecido entre nós pelo seu Processo a Jesus.

A peça apresenta uma reunião, num grande hotel de uma cidade europeia, de um grupo de jesuítas procedentes de diversos lugares do mundo, para debaterem sobre a função da fé cristã (e mais concretamente, da Companhia de Jesus) na sociedade actual. A surpresa final é que entre os assistentes apresentaram-se, de incógnito, Santo Ignácio de Loyola (na função fictícia de maitre do hotel) e São Francisco Xavier (como um «viageiro do Oriente»).

A obra estreara-se na Espanha só dous anos antes, em 1962, em Madrid. Uns anos mais tarde, em julho de 1967, foi emitida por TVE no seu espaço teatral «Estudio 1».

Actores da peça teatral: de esquerda à direita: Julio Leal, Francisco Conde Núñez, Montero Santalha, Aquilino Rivera, Suso López Piñeiro, Rodríguez Agrelo, Manuel Lozano (como negro), Pedro Conde, Humberto Busto, e, com sotana, Moncho (Ramón González), que dirigiu os ensaios

 

(*)José-Martinho Montero Santalla. (Cerdido, 1947) ingresó en el Seminario a los diez años. Doctor en Teología por la Gregoriana de Roma. Doctor en Filosofía por la Universidad de A Coruña.  Destacado defensor del denominado “reintegracionismo” al que aportó obras de gran influencia como la titulada “Reunificación ortográfica galego-portuguesa”. Su vasta formación y enjundiosa obra le sitúan entre los intelectuales gallegos de mayor prestigio de las últimas décadas.

Humberto, Aquilino, Pedro, Rodrigo, Manolo Lozano, Xulio e Agrelo

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