«Encuadernaciones Moro»

Fachada Seminario de Mondoñedo

Por José-Martinho Montero Santalha

 

Devo advertir, antes de nada, que deste tema vou falar com informação mui de segunda mão. Seguramente outros alunos do Seminário mindoniense pelos anos 50 poderão completar, precisar ou corrigir o que digo.

 

González-Moro Bolaños

Nos meus primeiros anos de Seminário (desde o curso 1957-58) falava-se de um seminarista que no Seminário de Mondonhedo se dedicou a encadernar livros. Apelidava-se González-Moro Bolaños, era originário de Ferrol e fazia parte do curso de Xaquín Campo Freire, Higinio Rodríguez, etc. Devia de ser isso antes do curso 1957-58, porque na lista de seminaristas desse ano académico, quando os dessa quinta cursavam segundo de Filosofia, o seu nome já não aparece. De acordo com o testemunho de Xaquín tinha procedência meridional, delatada pelo sotaque da sua fala: de Andaluzia ou Extremadura (ou talvez Canárias).

Ao parecer, eram muitos irmãos na família, e também outro irmão esteve algum tempo no Seminário mindoniense. De feito, em Internet podem localizar-se algumas pessoas que, dada a identidade pouco frequente dos apelidos, deviam de pertencer a essa irmandade. Cito seguidamente algumas referências. Em 1969 Francisco González-Moro Bolaños era mestre em Algeciras (Cádiz): informa-se da “adjudicación por consorte de una plaza de esta localidad a Don Francisco González-Moro Bolaños” (Escuela Española, núm. 1641, 28 de maio de 1969, pp. 860 e 864); em 1980 aparece como mestre de EGB no Colegio Nacional «Alborada», da Corunha (BOE, 4 de setembro de 1980, item 19175). Em 2012 e 2023 o sacerdote diocesano de Madrid Julio González-Moro Bolaños era missionário em Paraguai. Em agosto de 2013 faleceu em Bilbau Mari Cruz González-Moro Bolaños, viúva de Ovidio Hortigüela e de Juan Carlos Uzuriaga, que deixava filhos e netos, ademais de “hermanos, hermanos políticos, sobrinos, primos”… (El Correo 4 de agosto de 2013). Em janeiro de 2022 faleceu em Vigo, com 93 anos de idade, Joaquín González-Moro Bolaños, viúvo de Josefa Rodríguez Moreno (Faro de Vigo, 6 de janeiro de 2022).

 

A “empresa”

González-Moro, parece que com a colaboração de outro companheiro, organizou, por assim dizer, uma pequena empresa de encadernação, que usava a denominação comercial (suponho que nunca registada oficialmente) «Encuadernaciones Moro». Lembro o slogan publicitário dessa iniciativa empresarial: “Encuadernar es infinitivo; Encuadernaciones Moro, definitivo”, e creio recordar que algúm anúncio chegara também a Lourençá.

González-Moro tinha montado o seu talher nalgum local do Seminário (ao parecer, na «sala das maletas»), com os instrumentos para cortar e coser os livros ou outros materiais (cadernos ou folhas soltas) que iam ser encadernados. Também gravava os títulos no lombo, e pintava e até dourava os cantos.

Não cheguei a conhecer nem a “empresa” nem o protagonista desta iniciativa, pois quando eu passei a Mondonhedo (no início do curso 1959-1960) ele já não estava, e portanto já não existia a encadernação. Porém, em mão de professores e de seminaristas maiores ficavam livros encadernados por Moro.

Na voz comum, segundo se ouvia tanto em Lourençá como depois em Mondonhedo, as encadernações tinham fama de serem robustas e de excelente qualidade. Efectivamente, as que pude ver e manejar eram muito seguras, de aspecto magnífico e de extraordinária consistência. E a meu poder chegou (e conservo), por doação de D. Ángel Paz Gómez, um exemplar da gramática latina publicada por D. Gerardo Fanego Losada (irmão de D. Francisco, este mais famoso, e ambos professores de latim no Seminário).

Também lembro que, segundo se contava, algum professor (D. Gumersindo Cuadrado, se não me confundo) recebera um inesperado disgusto: lamentava que, ao encadernarem-lhe algum livro, recortaram-lhe as margens, e, com isso, perdera muitas das anotações manuscritas que ele tinha apontadas…

Suponho que a actividade da “empresa” se limitava, na prática, ao âmbito do Seminário (incluindo tanto seminaristas como professores). De qualquer modo, que uma iniciativa desse género surgisse e se desenvolvesse sem problemas é um bom sinal da amplitude de mente, de perspectivas e de actividades propiciadas pelo regime geral do Seminário mindoniense.

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