J-M. Montero Santalla / A Tuna universitária de Santiago interpreta Mozart no Seminário (março de 1962)

Por José-Martinho Montero Santalha

Durante os anos do franquismo celebrava-se periodicamente em Espanha um «Certamen Nacional de Tunas [ou de Estudiantinas]» universitárias, organizado pelo SEU («Sindicato Español Universitario», o ramo universitário do sindicato único do regime franquista), cada vez numa cidade distinta. Pelos anos 60 o ambiente geral era propício para a popularidade das tunas universitárias, porque andava por aqueles tempos pelas salas de cinema, com grande êxito de público, a película Pasa la tuna (de 1960), que contava uma história sentimental arredor de uma tuna universitária em Madrid.

A Universidade de Santiago, única da Galiza então, possuía uma tuna desde pelo menos os anos 80 do século XIX. Dela fez parte Castelao, que no seu livro Sempre en Galiza contou as suas lembranças e impressões de uma viagem a Portugal como membro da tuna.

Nos certames dos anos 40 e 50 a tuna compostelana fora premiada repetidamente, nalgum caso com o primeiro prémio.

O militar, jurista e professor ferrolano Robustiano Fernández Ballesteros (falecido em 1998) narrou no seu artigo «Ferrolanos en la tuna compostelana de los años cincuenta», publicado no número 4 (1993, pp. 18-23), da revista ferrolana Ferrol Análisis (que deve grande parte da sua existência à iniciativa do amigo Germán Castro, antigo companheiro no Seminário mindoniense) algumas das suas experiências como membro de aquela tuna. E fazia notar a alta qualidade musical do conjunto:

   “Quiero advertir al llegar aquí, que aquella Tuna era una tuna de concierto. Es decir, no era una especie de rondalla que canta mucho y toca poco. No era una tuna de simples pasacalles y actos festivos. No. Era como una orquesta de punteo, que sólo utilizaba como apoyo una flauta, y veces un violín, sobre todo para la calle. Su lugar de actuación solían ser los teatros” (FerrolAnálisis 4, 1993, p. 20).

Em março de 1962 celebrou-se o «Certamen Nacional de Tunas» na cidade de Oviedo. A tuna universitária de Santiago preparou-se, já desde inícios do ano, com ensaios diários (e também com diversas actuações públicas: na Estrada, em Vigo…) para participar no certame. Assim informava, por exemplo, o jornal compostelano La Noche:

«Ensayos de la Tuna y del Orfeón

“Estos días se han reanudado los ensayos de la Tuna y del Orfeón, así como del Grupo de Danzas”. (La Noche, 16 de janeiro de 1962, p. 2).

Ensayos de la Tuna

Esta tarde a las once y cuarto comienzan los ensayos de la Tuna, que serán diarios, en la planta baja de la Casa de la Parra”. (La Noche, 1 de fevereiro de 1962, p. 2).

 

Aviso a los componentes de la Tuna

A partir del día de hoy, la Tuna Universitaria Compostelana celebrará todos sus ensayos diariamente en la planta baja de la Casa de la Parra (Jefatura del SEU), a las once y cuarto de la noche, rogándose la puntual asistencia a los mismos de los componentes de la antedicha agrupación estudiantil”. (La Noche, 2 de fevereiro de 1962, p. 12).

A imprensa galega anunciava também a próxima participação da tuna compostelana no já próximo certame ovetense:

Concurso nacional de tunas en Oviedo

La Tuna Universitaria del SEU de Santiago participará en el Concurso Nacional que será celebrado en Oviedo los días 4, 5 y 6 de marzo”. (El Pueblo Gallego, 8 de fevereiro de 1962, p. 11).

La Tuna

La Tuna Universitaria de Santiago acudirá este año a Oviedo para tomar partre en el concurso nacional de Estudiantinas. No sabemos si antes o después, la colectividad hará una jira por las principales ciudades de Galicia. Santiago será la última ‘escala’. Pepe Alvite” (La Noche, 13 de fevereiro de 1962, p. 4).

“La Tuna saldrá para Oviedo el día 2 de marzo al objeto de participar en el certamen nacional de estudiantinas”. (El Pueblo Gallego, 25 de fevereiro de 1962, p. 16).

Com essa ocasião a tuna compostelana, de caminho a Oviedo por estrada, passou por Mondonhedo. Detiveram-se algum tempo na vila e actuaram em vários pontos, e também para nós no salão de actos do Seminário. Foi no dia 5 de  março, segundo informava a imprensa lucense algum tempo depois:

La Tuna de Santiago, en Mondoñedo

El pasado día 5, de paso para el Segundo Certamen de Tunas Universitarias de España que se celebró en Oviedo ha estado en esta ciudad la Tuna de la Universidad Compostelana, la cual recorrió con hermosos pasacalles la ciudad del Masma, dando serenatas ante el Palacio Episcopal, Casa Consistorial y Seminario, además de una actuación pública en el magnífico salón de actos del Instituto Laboral, donde fue grandemente aplaudida”. (El Progreso, 13 de março de 1962, p. 7).

Lembro bem que um dos membros da tuna fez uma breve apresentação em galego, o que era então bastante insólito. Disse, mais ou menos, o seguinte: “Cremos que somos os melhores, e, porque somos os melhores, tocamos a Mozart”.

E, efectivamente, interpretaram  –e magníficamente–  o primeiro movimento da «Pequena serenata nocturna» de Mozart, uma das suas obras mais populares. Esta peça já nos resultava bem conhecida porque era uma das muitas obras de música clássica que ouvíamos pelos altofalantes do Seminário pelas manhãs para despertar, sob o sábio e solícito cuidado de Dom Eugenio García Amor.

Segundo informação da imprensa da época, presidia então a tuna compostelana o estudante de doutorado na Faculdade compostelana de Direito Luís Porteiro Garea. Tanto o nome como os apelidos deste estudante de Direito coincidem com os de um justamente famoso político e escritor galeguista dos começos de século XX, dos tempos das Irmandades da Fala. Dado que este personagem faleceu no ano 1918, vítima da chamada «gripe espanhola» que se divulgou como sequela da primeira guerra mundial e que tantas mortes provocou por todo o mundo, este estudante poderia ser filho, ou mesmo neto (mas em qualquer destas alternativas deveríamos supor que esses apelidos estariam unidos constituindo um apelido composto: Porteiro-Garea). Por outras notícias da imprensa da época sabemos que ele falava ante o público em outras das frequentes atuações musicais da tuna, de maneira que, vistos os (prováveis) antecedentes galeguistas familiares, seria também ele o que falou em galego ante nós.

A imprensa informava igualmente que na junta directiva da entidade estavam também, como vicepresidente, o aluno de Direito José García Noel (?), e os alunos da Faculdade de Medicina Moisés Domínguez Luna como secretário, Castor Romeo como tesoureiro e José Álvzrez Gil como contador. (Vid. La Voz de Galicia 21 de fevereiro de 1962, p. 2).

Informava-se também da feliz chegada da tuna a Oviedo:

La Tuna en Oviedo

Ya se encuentra en Oviedo nuestra Tuna Estudiantil, que participa en el Certamen nacional del SEU. Los muchachos salieron de aquí muy animados. Han tomado muy en serio ese concurso y confiamos en que realicen un lucido papel.

Estarán de regreso de un día a otro, porque el presupuesto colectivo  –y suponemos también que el particular–  no dará para prolongar mucho la estancia en la capital asturiana.

Pepe Alvite” (La Noche, 5 de março de 1962, p. 4).

Efectivamente, no certame de Oviedo os nossos tunos foram dos melhores, pois receberam o segundo prémio. A tuna vencedora, a de Valência, ganhou precisamente interpretando uma peça de Mozart. O mesmo jornalista santiaguês Pepe Alvite informava do êxito:

Éxito de las tunas

¿No se lo decíamos a ustedes? Los muchachos de la Tuna Universitaria de Santiago llegaron a Oviedo y triunfaron. Para el primer premio se les puso delante la de Valencia, con un nocturno de Mozart; pero ni uno más ha logrado pisar el terreno a los nuestros, que conquistaron brillantemente el segundo. A continuación se clasificaron las Estudiantinas de Barcelona, Granada, Madrid, Zaragoza y Salamanca.

El optimismo con que nos hablaban los tunos antes de partir para Oviedo hacía concebir esperanzas de éxito grande”. (La Noche, 8 de março de 1962, p. 4).

 

 

 

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